sábado, 3 de setembro de 2011

Lendo a Bíblia em vão - Charles Haddon Spurgeon


Devemos entender aquilo que lemos na Palavra de Deus, sendo que de outra forma, lemos em vão,
reconhecemos que quando passamos ao estudo das Escrituras Sagradas devemos esforçar-nos
para ter nossa mente bem atenta. Parece-me que nem sempre estamos em boas condições para
ler a Bíblia. As vezes, seria bom fazermos uma pausa antes de abrirmos o Livro. "Tira as sandálias
dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa." Você acabou de chegar de seus negócios
seculares, com seus cuidados e ansiedades, e não consegue pegar naquele Livro e  imediatamente 
penetrar nos seus mistérios celestiais. 

Assim como você pede a bênção sobre sua refeição antes de começar a comer, também seria
uma boa regra pedir uma bênção sobre sua leitura da Palavra antes de ingerir sua comida celestial.
Ore para que o Senhor abra os seus olhos espirituais, antes de você ousar olhar para  a luz eterna
das Escrituras. A leitura bíblica é a hora de nossa refeição espiritual. É só tocar a  sineta e convidar
todas as faculdades mentais à mesa do próprio Senhor para fartar-se com a comida que agora está
pronta; ou, melhor, que soe como o toque dos sinos da igreja em convite  para a adoração, porque
o estudo das Sagradas Escrituras deve ser uma ação tão solene como nosso ato de adoração na
casa do Senhor.

Meditação na Palavra

Se a leitura começar dessa forma, você perceberá imediatamente que, para compreender aquilo
que lê, precisará meditar a respeito. Alguns trechos bíblicos ficam claros diante dos nossos olhos
— baixos abençoados onde os cordeiros podem chapinhar; existem, no entanto, profundezas
onde nossa mente poderia antes afogar-se do que nadar com prazer, se ela chegasse até lá sem
cautela. Existem textos das Escrituras que foram feitos e construídos com o propósito de nos levar
a pensar. Por esse meio, inclusive, nosso Pai celestial quer nos educar para o céu — fazendo-nos
penetrar nos mistérios divinos com a nossa mente. Por isso, Ele nos oferece a sua Palavra de
uma  forma às vezes complexa, para nos compelir a meditar sobre ela, antes de chegarmos à sua
doçura. 

Ele poderia ter explicado tudo de tal maneira que captássemos o pensamento num só minuto, mas
não foi da vontade dEle fazer assim em todos os casos. Muitos dos véus que são lançados sobre as
Escrituras não têm a intenção de ocultar o significado aos leitores diligentes, mas de compelir a
mente a ser ativa, pois muitas vezes a diligência do coração em procurar saber a vontade divina faz
mais bem ao coração do que a própria sabedoria obtida. A meditação e o esforço mental cuidadoso
servem como exercício e fortalecimento da alma, que passa a ficar em condições de receber verdades
 ainda mais sublimes.

Precisamos meditar.

Essas uvas não produzem vinho até serem pisadas por nós. Essas azeitonas precisam ser colocadas
debaixo da roda, e prensadas repetidas vezes, para que o azeite flua delas. Olhando para um punhado
de nozes, percebemos quais delas já foram comidas, porque há um buraquinho onde o inseto furou a
casca — só um buraquinho, e lá dentro há uma criatura vivente comendo a noz. 
 
Ora, é uma coisa maravilhosa furar a casca da letra, para então ficar por dentro comendo a própria
noz.  Bem que eu gostaria de ser um vermezinho assim, vivendo dentro da Palavra de Deus,
alimentando-me  dela, depois de ter aberto caminho através da casca e ter chegado ao mistério mais
interior do evangelho  bendito. A Palavra de Deus sempre é mais preciosa para o homem que mais se
alimenta dela.

No ano passado, sentado debaixo de uma faia nogueira que se estendia em todas as direções, e
admirando aquela árvore tão maravilhosa, pensei comigo mesmo: Não tenho nem a metade da estima
por essa faia do que o esquilo tem. Vejo-o, pulando de galho em galho, e tenho certeza que ele dá muito 
valor àquela velha faia, porque tem seu lar em algum oco dentro dela, os galhos são o seu abrigo,
e aquelas nozes de faia são o seu alimento. Ele vive da árvore. É seu mundo, seu pátio de recreio, seu
celeiro, seu lar; realmente, é tudo para ele; mas para mim, não, porque obtenho meu repouso e minhas  
refeições em outro lugar. 

No caso da Palavra de Deus, é bom sermos como esquilos, habitando nela e vivendo dela.
Exercitemos nossa mente, pulando de galho em galho na Palavra; achemos nela o nosso repouso
e façamos dela o nosso tudo. O proveito será todo nosso, se fizermos dela nosso alimento, nosso remédio,
 nosso tesouro, nosso arsenal, nosso repouso, nossa delícia. Que o Espírito Santo nos leve a fazer assim,
 tornando a Palavra tão preciosa à nossa alma!




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