sábado, 19 de novembro de 2011

A Cruz e a Graça

E aqui, então, vemos o grande paradoxo do Cristianismo: a Cruz nos convidando para a morte inevitável, a Graça nos chamando para a vida abundante; na cruz está a porta estreita, “poucos são os que acertam com ela”, na Graça, o fardo leve para todo aquele que se achega ao Senhorio
de Cristo".


Dentre todas as características e símbolos que expressam a religiosidade cristã, sem dúvida, a Cruz e a Graça são os mais notórios e curiosos. Cada um em um extremo, cada um carregando uma mensagem e um significado, aparentemente opostos e distintos. Totalmente diferentes, porém unidos; radicalmente diversos, no entanto, caminhando juntos na vida de cada verdadeiro cristão.

Para que possamos compreender essas diferenças e a forma como agem em nossa caminhada com Cristo, iremos dar as definições de cada uma dessas dádivas que nosso Deus nos concedeu em Cristo Jesus:

1- Graça:
Do grego Charis, que significa, a grosso modo, favor imerecido, algo que se recebe, de Deus, sem mérito algum e sem nada dar em troca, algo, realmente, gratuito.

2- Cruz:
Arma mortal; antigo instrumento de suplício (sofrimento) em que se amarravam condenados à morte (Dicionário Aurélio); provavelmente, o mais cruel método de execução já praticado, pois deliberadamente atrasa a morte até que a máxima tortura seja infligida.

Agora precisamos entender como se relacionam, na vida do crente, esses dois dons, ou seja, a cruz, para a qual somos convidados pelo Senhor quando Ele, peremptoriamente, nos diz: “Aquele que quiser vir após mim, tome a cada dia sua cruz e siga-me” e a Graça, acerca da qual somos informados pelo Espírito Santo: “Porque a Graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens”(Tt.2: 11).

Precisamos, então, compreender como essas duas proposições tão diversas podem trabalhar juntas em nossa vida e, qual a necessidade que tenho de carregar a Cruz se a salvação é de Graça? A
graça diz: “Pela Graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós é dom de Deus. Não vem das obras para que ninguém se glorie” (Ef.2: 8e9).

A Cruz diz: Todo aquele que tomar a Cruz, deverá caminhar para seu próprio fim, o fim da sua “vida” (Ego), enfrentar a morte (do Eu).
Segundo os historiadores, quatro anos antes do nascimento de Jesus, Jerusalém foi atacada pelo General romano Varus que crucificou e matou cerca de 2000 judeus, e todos foram obrigados a carregar sua própria Cruz antes da execução.

Esta era uma forma de tornar a morte ainda mais cruel e humilhante; ficou, para sempre, gravada na memória de todo o povo judeu; eles sabiam bem o que significava “carregar a Cruz”! Eles viram seus entes mais queridos serem assassinados cruelmente nela. Na caminhada com a Cruz, não havia
retorno, não se podia negociar; todo aquele que tomava sua cruz já se despedira de seus amigos e familiares, sabia que não iria voltar!

E aqui, então, vemos o grande paradoxo do Cristianismo: a Cruz nos convidando para a morte inevitável, a Graça nos chamando para a vida abundante; na cruz está a porta estreita, “poucos são os que acertam com ela”, na Graça, o fardo leve para todo aquele que se achega ao Senhorio de Cristo. E que grandes dificuldades isto tem causado àqueles que têm a incumbência de pregar o evangelho.

Alguns com muita ênfase e propriedade falam acerca da Graça e quase se esquecem da Cruz, outros demonstram com clareza a necessidade da Cruz, mas esquecem-se da Graça e, talvez, o que mais necessitamos em nossos dias seja um equilíbrio entre ambas as mensagens. Para explicar bem esse terrível contraste, creio que o melhor de todos os exemplos seja aquele vivido pelo apóstolo Paulo, quando em grande angústia orou três vezes ao Senhor e pediu que fosse retirado o espinho
que lhe feria a carne; um espinho que, de tanto ferir, talvez já estivesse a ponto de matar a teimosa carne de Paulo, afim de que ela não contasse “vantagens ou se gloriasse” em testemunho da grandeza das revelações a ele confiadas.Paulo então declara: “E, para que não me exaltasse pela excelência das revelações, foi me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de
Satanás para me esbofetear, a fim de não me exaltar” (IICor.12: 7).

Que maravilhosa contradição, a Graça trazendo as inefáveis e belíssimas revelações, a Cruz trazendo o espinho, um demônio enviado por Deus, para corrigir, equilibrar e ajustar as coisas na vida de Paulo. Paulo era um homem, “sujeito às mesmas paixões que todos nós”, ele poderia
ficar vaidoso com o ministério, ele poderia deixar crescer seu Ego, sua necessidade de aprovação e reconhecimento, afinal, quantos homens na história da Igreja tiveram tantos privilégios espirituais, tanta Graça quanto ele.

A tentação de trocar as inúmeras perseguições, pela glória de ser elogiado, aplaudido e adquirir fama pelas revelações, oh ! quão grande deveriam ser essas tentações! Então vemos a Cruz equilibrando tudo, espetando, espezinhando, maltratando a carne e mantendo o corpo do pecado “dependurado no madeiro”, matando o Ego, desiludindo qualquer desejo de grandeza!

Outro exemplo da relação entre Graça e Cruz nos é dada por Paulo quando ele afirma: “Porque, como as aflições e sofrimentos de Cristo são abundantes em nós (Cruz), assim também é abundante a nossa consolação por meio de Cristo” (Graça). Em outras Palavras, a Cruz de Cristo em mim
provoca grandes conflitos e sofrimentos para matar o velho homem e me preparar para morar no céu; a Graça me conforta, me consola e me ajuda durante esse treinamento trabalhando junto com a Cruz; desta forma, a frase que melhor parece descrever esta relação para todo aquele que
decide tomar a Cruz é:

“Graça,a capacitação de Deus para suportar a Cruz”.

Que Deus muito os abençoe!

Irmão Acyr

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