quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Só para os que realmente foram regenerados - John Owen (1616-1683)

Só um cristão, isto é, uma pessoa que está verdadeiramente unida a Cristo, é capaz de mortificar o pecado.

A mortificação é a obra de cristãos: "Se...vós mortificardes..." (Rom. 8:13). Um homem não
regenerado (isto é, uma pessoa que não está verdadeiramente unida a Cristo pela fé) pode fazer alguma coisa que se pareça com a mortificação mas não pode mortificar um único pecado de uma maneira aceitável a Deus. No capítulo 3 vimos como muitas pessoas sinceramente religiosas (agindo segundo os princípios que lhes foram ensinados pela sua igreja) tentam mortificar seu pecado, mas infelizmente é tudo em vão.

Não estamos sugerindo que somente cristãos são obrigados a mortificar o pecado. Não. A mortificação é um dever (como o arrependimento e a fé) que Deus requer de todos os que ouvem o
evangelho. Aquilo em que estamos insistindo é que só o cristão é capaz de fazê-lo. O incrédulo também é obrigado a fazer isso, porém não é o dever imediato dele. Seu dever imediato é crer no evangelho que lhe foi anunciado.

Sem a ajuda do Espírito de Deus a mortificação não pode ser efetuada. Uma pessoa pode mais facilmente ver sem os olhos, ou falar sem uma língua, do que verdadeiramente mortificar um
pecado sem o Espírito. Mas como pode uma pessoa obter a ajuda do Espírito de Deus? Ele é o Espírito de Cristo e Ele é recebido quando se crê nas boas novas sobre Jesus Cristo - não como um galardão por se ter guardado a lei (veja Gálatas 3: 1-5, especialmente o versículo 1). Todas as tentativas para mortificar qualquer lascívia sem fé em Jesus Cristo será de nenhum valor.

Quando os judeus tiveram convicção de pecado no dia de Pentecoste e exclamaram: "que faremos?", qual foi a resposta de Pedro? Acaso orientou-os no sentido de mortificarem seu orgulho, sua ira, sua malícia, sua crueldade etc? Não. Ele sabia que não era isso que eles precisavam fazer naquela ocasião. O que eles precisavam era ser convertidos, arrepender-se de seus pecados e crer em Jesus Cristo (veja Atos 2: 38). Pedro sabia que a primeira necessidade do homem era
confiar nAquele que ele tinha traspassado e que fazendo isso, o resultado verdadeiro seria a humilhação e mortificação. O mesmo era verdadeiro no ministério de João Batista. Os fariseus colocaram sobre o povo deveres pesados e meios rígidos de mortificação tais como jejuns e abluções. João, contudo, pregou a necessidade imediata de conversão e arrependimento (veja Mateus 3: 8).

O ministério de Cristo foi o mesmo. Ele disse: "Colhem--se, porventura, uvas dos espinheiros ou
figos dos abrolhos?" (Mat. 7: 16). As árvores só podem produzir segundo sua espécie e desse modo Cristo nos diz: "Fazei a árvore boa e o seu fruto (será) bom" (Mat. 12: 33). Noutras palavras, a raiz é que precisa ser tratada. A natureza da árvore precisa ser mudada ou é impossível que a árvore produza bom fruto.

Este fato é tão básico, todavia tão importante, que precisamos gastar mais algum tempo considerando alguns perigos que resultam de o negligenciarmos ou de o ignorarmos.

Focalizaremos apenas três perigos:

1. O perigo de nos desviarmos do dever primário

Quando este fato básico é ignorado ou negligenciado há o perigo de que a mente e a alma de uma pessoa se tornem por demais preocupadas com um dever que não lhes diz respeito propriamente. O dever primário de uma pessoa é se arrepender e crer no evangelho. Enquanto isto não for feito, nenhum outro dever terá qualquer valor real. Uma pessoa pode despender todos os seus esforços tentando mortificar o pecado quando, na realidade, deveria estar concentrando os seus esforços para obter uma fé salvadora em Cristo.

2. O perigo do auto-engano

O dever da mortificação é, em si mesmo, uma boa coisa, desde que seja efetuado somente por aqueles que têm uma fé salvadora em Cristo. O perigo é que a pessoa pode aplicar-se ao
cumprimento deste dever e presumir que devido agir desta maneira, deve estar agradando a Deus. Por exemplo:

a) Em vez de ir ao Grande Médico das almas para buscar cura mediante Sua morte na cruz, uma pessoa pode se ocupar procurando curar-se a si mesmo através da mortificação. "Quando Efraim viu
a sua enfermidade, e Judá a sua chaga, subiu Efraim à Assíria e se dirigiu ao rei principal (Jarebe), que o acudisse" (Os. 5: 13) e, desse modo Judá e Efraim se privaram da cura que Deus poderia lhes ter dado.

b) Visto que o dever da mortificação parece demonstrar muita evidência de sinceridade de sua parte, a pessoa pode ser endurecida por ele numa espécie de justiça própria e pode pensar que seu estado é bom.

3. O perigo de estar desiludido pela falta de sucesso

Um incrédulo pode esforçar-se neste dever e tão-somente para enganar-se. Mais cedo ou mais tarde
ele descobrirá que seu pecado não está sendo mortificado e que ele está mudando de um tipo de pecado para outro. Então ele se desesperará, julgando que nunca terá sucesso e consequentemente entregar-se-á ao poder do pecado.

Acyr

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