terça-feira, 16 de agosto de 2011

E obrigaram Simão a carregar a cruz.


Conforme vemos em Mc.15: 21- E constrangeram (obrigaram) um certo Simão,  cireneu, pai de Alexandre e Rufo, que por ali passava, vindo do campo, a que  carrega-se a cruz.
Vemos algo bem curioso neste texto, este Simão, homem, até então, comum e ímpio (não crente), passava desapercebido pelo mesmo caminho onde Jesus carregava a pesada cruz, na qual seria crucificado pelo preço de nossas vidas diante do Pai. Todos os discípulos que o seguiam já haviam fugido, inclusive Pedro, o mais destemido e aparentemente, também, o mais corajoso e impetuoso, mas que tremeu  grandemente diante da terrível Cruz, então, os soldados romanos obrigaram um estranho, uma pessoa que nada tinha haver com tudo aquilo, a que tomasse lugar ao lado do Senhor Jesus e o ajudasse com o vitupério e a vergonha de carregar a arma pela qual seria morto.
Arma esta que, era sempre utilizada para matar os piores malfeitores do império.  
Seria injusto se não mencionássemos João, que de longe ainda seguia o mestre no caminho do Gólgota, ele foi o único discípulo que após uma fuga temporária voltou para estar com o Senhor Jesus, por isso mesmo, o Senhor, após a ressurreição, promete a ele uma morte sem martírio, uma morte calma e em boa velhice (João21: 19a22). Quero, também, lembrar que todos os outros que, a princípio, tentaram evitar a cruz, morreram martirizados para glorificar a Deus e se tornarem aquela boa semente que depois de morrer pode gerar muito fruto. (João12: 24e24).
A Bíblia não fala muito de Simão, após este evento, o que podemos saber é que este homem teve uma experiência tremenda neste dia, sua vida mudou completamente e  para todo o sempre. Ele se tornou um eminente discípulo do Homem que ajudou a morrer, do mesmo Homem para quem carregou a arma e conheceu junto a cruz; ele converteu-se, ou melhor, ele foi convertido. E seus filhos serviram fielmente ao  Senhor Jesus, Rufo até foi elogiado pelo apóstolo Paulo que declarou ser ele um eleito do Senhor em Romanos16: 13. Considerando a forma como o evangelho chegou na família de Simão, creio que ninguém poderia negar que ocorreu uma eleição e uma escolha muito específica, ele não foi convidado a carregar a cruz, ele foi obrigado, foi constrangido e, por fim, foi eleito de Deus e seus filhos também.
Conversando com uma irmã em Cristo ela disse algo que me fez pensar acerca da doutrina da eleição de Deus ou mesmo da predestinação em contraste com o livre arbítrio do homem em relação à salvação. Essa irmã me disse assim: “Creio que acreditar na predestinação ou no livre arbítrio é algo irrelevante e que nada pode acrescentar a vida de um cristão, a única interferência prática esta ligada a forma de se pregar o evangelho”. 
Pesando nessa frase, fiquei imaginando como seria a forma de pregar de alguém que crê na predestinação e como pregaria alguém que crê no livre arbítrio. Olhando para a história da Igreja, para os pais apostólicos e homens como Santo Agostinho, Calvino, Lutero, Jonathan  Edwards,  Charles  Spurgeon,  Jonh  Knox   e  muitos  outros  que  criam  na
predeterminação e soberania de Deus em relação à salvação, eu concluí que a mensagem deles e a forma como eles cultuavam a Deus e glorificavam ao Senhor de todo universo, possuía um toque de profunda reverência e temor que nos constrange e nos fala ainda hoje, mesmo depois de tantos anos passados.
Nisso também constatei que, para mim, a mensagem da predeterminação e soberania   de Deus é algo muito real e completamente aplicável nos púlpitos modernos, tanto quanto foi no passado e, a partir desse ponto, comecei a avaliar o ensino do livre arbítrio ou da soberania do homem, podendo escolher entre tornar-se ou não um filho de Deus.
Bom, na verdade, eu jamais vi alguém escolher um pai ou mesmo dizer, eu quero ser filho daquela pessoa, ou daquela outra, parece-me que quando somos concebidos fica determinado para sempre quem é nosso pai biológico e nossos genes comprovam isso, basta que se façam os exames e fica comprovada nossa ascendência paterna. Bom, e quanto a nossa filiação espiritual, será que podemos escolher de quem seremos filhos, podemos exercer o livre arbítrio nesse assunto?
Creio que para muitos cristãos modernos a resposta seria sim, eu posso escolher entre ser filho de Deus ou filho do diabo (João8: 44)- Jesus disse aos fariseus: Vós sois filhos do diabo e quereis sempre satisfazer a vontade do vosso pai. Aqui o Senhor Jesus classifica os religiosos fariseus como filhos do diabo, pessoas que não se convertiam, pessoas que não compreendiam e nem jamais compreenderiam a obra redentora de Jesus para poderem tornar-se filhos de Deus (João1: 12).
Alguém poderia argumentar que algum fariseu poderia contestar o Senhor Jesus e dizer:  Só para provar que você está enganado Jesus, eu vou me converter e me tornar um filho   de Deus também! Se isso acontecesse, realmente, o Senhor Jesus poderia ter se enganado acerca da filiação daqueles religiosos, mas a história comprova que o Senhor Jesus acertou TUDO. Tudo o que Ele disse se cumpriu ou está se cumprindo. Aqueles fariseus não tiveram chance de mudar de opinião e se converter porque o Senhor Jesus disse aos discípulos: Porque a vós é concedido conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é dado (Mateus13: 11).
A mensagem acerca dessa nossa dependência tão completa de Deus que, até para desejar ser salvo, dependemos Dele para nos convencer, é algo, verdadeiramente, muito ofensivo para o nosso ego. Faz com que sejamos como crianças completamente incapazes e dependentes de nosso Pai, ficamos tão humilhados e desqualificados, tão sem respeito próprio; é como se eu tivesse que reconhecer que sou um miserável viciado e que sem ajuda não posso me libertar e, nem mesmo desejar ser liberto dos vícios hediondos e escravizadores. 
A natureza do homem se revolta diante de tamanha afronta, então, em uma resposta direta, dizemos: Eu tenho muita maldade na minha carne, mas há, ainda, uma parte boa, santa e justa que me ajuda a exercer o livre arbítrio em favor de Cristo. Eu posso  desejar ser salvo e com um empurrão do Espírito Santo eu me converto. Eu posso ajudar o Senhor porque Ele encontrou algo de bom na minha alma e potencializou essa boa natureza que fez uso do livre arbítrio para concordar com Deus e me salvar.
A partir desse conceito do livre arbítrio, surgiram novas e criativas  diretrizes para a moderna igreja. Muitos se levantaram para defender o direito do homem e a glória   da humanidade que não pode mais admitir uma salvação tão humilhante como aquela defendida pela predestinação, onde somente Deus escolhe, humilha, convence e salva. Deus leva, então, todo o crédito, manipula, estipula e ajusta todas as coisas; Como crianças incapazes de qualquer reação, somos impelidos para o refúgio dos braços Dele que nos disciplina e açoita quando demonstramos qualquer rebeldia ou falta de confiança em seu plano soberano. Se admitirmos isso, teremos que ser como Jonas que Ele colocou sobre a pressão das corrosivas substâncias digestivas do ventre do grande peixe até que Jonas foi obrigado a arrepender-se. Depois, ainda levou Jonas a pregar um sermão curtíssimo de poucos segundos que não poderia, humanamente falando, convencer ninguém com argumentos tão pueris. 
Para completar, leva a cidade inteira a conversão com essa mensagem simples de arrependimento. O que, também, parece uma discrepância à nossa liberdade de escolha, já que nenhum ninivita daria crédito a um judeu pregador... Nenhum sociólogo admitiria que os ninivitas poderiam converter-se com uma mensagem pregada dessa forma; Culturas tão diferentes, sem utilizar as técnicas de adaptação transcultural. Não podemos mais usar estes métodos retrógados em nossos dias; hoje precisamos estudar a cultura, adaptar a mensagem e bajular o livre arbítrio do povo a ser alcançado, não basta uma mensagem de arrependimento e renúncia. Enfim, a cidade toda se converteu, tendo sido a conversão em massa mais espetacular em toda a história da humanidade, mas isso foi com Jonas, não tem haver com a Igreja moderna, dizem eles, agora os argumentos para convencer são outros, bem mais criativos e humanos, a idéia é agregar, nunca renunciar!  
Esses defensores do livre arbítrio, também afirmam que, entre a queda de Paulo no caminho de Damasco, sua cegueira, e a oração de Ananias; Ouve algum momento que Saulo tenha escolhido tornar-se Paulo e que não pode ter sido uma escolha exclusiva, soberana  e  determinante de  Deus que  disse  a Ananias: Vá, ajude a Paulo, porque eu  lhe
mostrarei ainda o quanto convém que ele sofra por causa do meu nome e do evangelho (Atos9: 15e16). O homem nem havia se convertido ainda e Deus já falava do quanto ele sofreria pelo Senhor, certamente, Deus não seria um tirano de agir assim, foi Paulo que escolheu...dizem os defensores do livre arbítrio.  
Nessa grande empreitada em defesa do direito e da participação do homem na obra  de redenção e salvação individual, os defensores desta idéia trouxeram a baila os modernos, inovadores e extravagantes meios de evangelismo e marketing evangélico. Baseado na empolgante faculdade de decisão e escolha que o homem tem, no que tange a sua salvação, os evangelistas adeptos desta idéia concluem que precisam ajudar o homem em sua decisão por Cristo, assim, a propagada e a técnica, necessitam de grande precisão e bons argumentos. Precisamos atrair e convencer o homem, dizer ao homem que o evangelho fará dele um homem melhor, mais completo, mais realizado, mais aceito. No evangelho você poderá fazer tudo o que fazia antes, mas agora em um padrão mais elevado, com uma moralidade muito mais aceitável, podendo influenciar a política e a economia, tornando o mundo um lugar melhor e até tomando a cidade para Cristo.
Veja que estamos lidando com homens que estão em busca do seu melhor EU, em busca de expor o que têm de melhor em SÍ mesmos, pessoas que exigem bons estímulos e bons argumentos. Assim, para estes oferecemos a nova cruz, o novo estilo de ser um crente que exerceu e exercerá seu livre arbítrio e seus maravilhosos potenciais a favor de Cristo. Como disse Tozer: “A nova cruz não destrói o pecador; redireciona-o. Aparelha-o para um modo de viver mais limpo e mais belo e poupa seu respeito próprio. Àquele que é assertivo, ela diz: Venha e afirme-se por Cristo. Ao egoísta, declara: Venha, exalte-se no Senhor. Ao que procura emoção viva, afirma: Venha e goze a  vibrante emoção do companheirismo cristão”. O bom argumento é que a mensagem cristã se distorce na direção da moda em voga, para que se torne aceitável, agradável e convincente ao público.
Todo o culto cristão ganha, então, nova roupagem humanista; precisamos estudar e assimilar a cultura do povo que vamos evangelizar, precisamos vestir o cristianismo com a roupagem da época e do povo que queremos alcançar. Essa é a armadilha: Eles se tornarão cristão e nem se darão conta disso, tamanha a eficácia da técnica. O boxeador estará boxeando para Jesus, a dançarina, dançando para Jesus, os ritmos afros, os batuques e os berimbaus, também estarão a serviço de Jesus, enfim, toda a cultura e realizações humanas podem estar a serviço de Cristo e andando de mãos dadas com a Igreja. 
Com este argumento ajustamos o culto cristão para o bem estar e para a alegria dos clientes que, sem dúvida, nos escolhem por termos o melhor produto religioso. Falamos acerca das vitórias e conquistas sociais, acerca dos milagres e curas que confortam nossas vidas neste mundo. Falamos dos anseios familiares e de tudo que o povo quer e precisa ouvir para o engrandecimento e realização da humanidade plena. Não temos dúvidas que este é o segredo do sucesso e da mais plena contribuição do livre arbítrio na igreja moderna e contemporizada com mundo.    
Por este prisma, os defensores da predestinação e da soberania de Deus perdem completamente seu espaço, não dão lugar a criatividade, a espontaneidade e a supremacia da natureza humana, não ajusta o culto a necessidade humana, pelo contrário, prioriza Deus, exalta Deus, em tudo depende humilhantemente de Deus, até mesmo para a mais simples e banal decisão consulta o Senhor. Os cultos não falam aos homens , têm uma preocupação abusivamente teocêntrica, desentroniza o homem por completo, engrandece, exalta, enaltece e entroniza somente a Deus a ponto de confiar que até as conversões e o crescimento da Igreja dependem Dele. Obviamente, aos olhos humanos, a predestinação soberana de Deus é uma grande ofensa e, todas as forças da humanidade clamam pelo livre arbítrio.
E como disse a serpente a Eva: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal (Gen.3: 4e5). Sereis como Deus, vocês saberão fazer a escolha certa, vocês saberão o que é bom e o que é ruim, vocês terão, sem dúvida, a tão sonhada liberdade de escolha, terão a independência de Deus, serão livres e com muito livre arbítrio.
Concluo que a irmã, enfim, estava parcialmente correta e, uma coisa que muda, verdadeiramente, no que tange a crença do livre arbítrio, é a forma de se pregar o evangelho. Mas desejo acrescentar que, no meu ponto de vista, muda também, a forma de se viver e praticar o evangelho e, também, a forma de priorizar os métodos de Deus quanto ao convencimento do pecador pelo Espírito e não pela propaganda. E como disse Paulo aos contradizentes: Pode o vaso se voltar para o oleiro e dizer : “Porque me fizeste assim?” (Rom.9: 20e21).
Que Deus muito os abençoe: 
Irmão Acyr.

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