terça-feira, 16 de agosto de 2011

A Unidade que está nos destruindo - A. W. Tozer


A Unidade que está nos destruindo - A. W. Tozer

Quando unir-se e quando dividir-se, eis a questão, e uma resposta
abalizada exige a sabedoria de um Salomão.

Alguns resolvem o problema de maneira simples e prática: Toda
união  é  boa  e toda divisão é má. Muito fácil. Mas esta maneira
simplista  de  tratar  do  assunto  ignora as lições de história e se
 esquece  das  profundas  leis   espirituais  que  regem  a vida do
 homem.

Se  os  homens  bons  desejassem a união e os maus a divisão ou
vice-versa,  isso  simplificaria  as coisas para nós. Ou se pudesse
ser mostrado que Deus sempre une e o diabo sempre divide, seria
 fácil  encontrar  nosso  caminho  neste  mundo  confuso. Mas as
coisas não são assim.

Dividir  o  que  deve  ser dividido e unir o que deve ser unido faz
parte  da  sabedoria. A união de elementos heterogêneos jamais é
boa  mesmo  que  possível, nem a divisão arbitrária de elementos
 semelhantes. Isto  se  aplica  certamente tanto às coisas morais e
religiosas, como às políticas e científicas.

Deus foi quem fez a primeira divisão, quando separou a luz das
trevas no momento da criação. Esta divisão estabeleceu a regra
para todo o comportamento divino na natureza e na graça. A luz
 e as trevas são incompatíveis. Tentar ter ambas no mesmo lugar
ao mesmo tempo é tentar o impossível e o resultado será sempre
nulo, nem uma nem outra, mas obscuridade e escuridão.

No mundo dos homens, atualmente são poucos os contornos que
se destacam. A raça acha-se decaída. O pecado trouxe confusão.
O  trigo  cresce  junto  com  o   joio, as  ovelhas  e  os  cabritos
 coexistem,  as  terras  dos  justos  e  injustos  ficam lado a lado
na paisagem, a missão tem o bordel como vizinho.

As coisas, porém, não serão sempre assim. Está chegando a hora
em  que  as  ovelhas serão separadas dos cabritos, o joio do trigo.
Deus  dividirá  novamente  a  luz  das trevas e todas as coisas se
Agruparão  segundo  a  sua espécie, O  joio irá para o fogo junto
Com  o  joio, e  o  trigo  para  o  celeiro com o trigo. A névoa se
 levantará  como  acontece  com  a  neblina e todos os contornos
surgirão nítidos. O inferno será sempre reconhecido como inferno
e  o  céu  irá  revelar-se  como  o  lar  de  todos os que possuem  a
natureza do Deus único.

Aguardamos com paciência essa hora. Enquanto isso, para cada um
de nós e para a igreja onde quer que apareça na sociedade humana,
a pergunta repetida deve ser: Com o que devemos unir-nos e do que
 separar-nos? A questão de coexistência não existe aqui. O trigo
 cresce  no  mesmo campo com o joio, mas deve haver polinização
 mútua  entre  eles? As  ovelhas  pastam  junto  aos   cabritos,  mas
devem  procurar  cruzamento  entre  as  espécies? Os injustos e os
 justos  gozam  da  mesma   chuva  e   do  mesmo sol, mas  devem
 esquecer suas profundas diferenças morais e casar-se?

A
resposta popular a estas perguntas é afirmativa. Unir-se sempre e os
homens  serão irmãos apesar de tudo. A unidade é tão preciosa que
 preço  algum é demasiado para alcançá-la e nada é suficientemente
 importante  para manter-nos separados. A verdade é sufocada para
celebrar a  festa de casamento do céu e do inferno, e tudo isso a fim
de  apoiar  um conceito de unidade que não se baseia na Palavra de
 Deus.

A igreja iluminada pelo Espírito não aceita isso. Num mundo caído
como o nosso a unidade não é um tesouro que deva ser comprado
 ao preço da transigência. A lealdade a Deus, a fidelidade à verdade
e à preservação de uma boa consciência são jóias mais preciosas do
que o ouro de Ofir ou os diamantes extraídos da mina. Por causa
dessas jóias homens sofreram a perda de propriedades, a prisão e até
 a  morte; por elas, mesmo  em  épocas  recentes, por  trás  das várias
 cortinas, os seguidores de Cristo pagaram até o último centavo o
 preço de sua devoção e morreram silenciosamente, desconhecidos e
 não aplaudidos pelo grande mundo, mas conhecidos de Deus e caros
ao seu coração paterno. No dia em que forem declarados os segredos
de todas as almas, eles irão apresentar-se para receber as obras feitas
no  corpo. Esses  são  certamente  filósofos   mais  sábios  do  que os
seguidores religiosos da unidade sem significado, que não possuem
 coragem suficiente para colocar-se contra as modas correntes e que
 clamam por irmandade só porque tal coisa acha-se no momento em
foco.

"Divida
  e   conquiste"  é  o  refrão   cínico  dos   líderes   políticos
maquiavélicos, mas Satanás sabe também como unir e conquistar. A
 fim de colocar uma nação de joelhos o ditador em potencial precisa
 primeiro uni-la. Através de apelos repetidos ao orgulho nacional ou
 à necessidade de vingar-se de alguma injustiça passada ou presente,
o  demagogo  consegue  unir a população à sua volta. Depois disso é
fácil  dominar  os militares e submeter o legislativo. Segue-se então,
na verdade, uma unidade quase perfeita, mas trata-se da unidade do
curral ou do campo de concentração.
Vimos isto acontecer várias vezes neste século, e o mundo irá vê-la
 uma vez mais quando as nações da terra se unirem sob o Anticristo.

Quando as ovelhas confusas começam a cair num despenhadeiro, a
ovelha  que  quiser salvar-se individualmente precisa separar-se do
 rebanho. A   unidade  perfeita  em  tal  momento só pode significar
destruição  total para todos. A  ovelha sábia, para salvar sua própria
pele, se afasta.

O  poder  se encontra na união de coisas homogêneas e na divisão das
heterogêneas. Talvez aquilo que precisamos nos círculos religiosos de
hoje  não  seja  mais  união, mas  uma  certa  divisão sábia e corajosa.
Todos  desejam a paz, mas pode ser que o reavivamento use a espada.

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