terça-feira, 23 de agosto de 2011

Marcas de uma experiência real com Deus

Se algum observador ou santo que tivesse passado séculos ao lado do mar de
fogo descesse à terra, como seria sem significado para ele a tagarelice
incessante dos homens. Como lhe seriam estranhas e como pareceriam
vazias as palavras triviais, áridas e inúteis que hoje se ouvem na maioria dos
púlpitos todas as semanas. E se esse alguém fosse falar aqui na terra, não
falaria sem dúvida de Deus, fascinando os seus ouvintes com as descrições
extasiadas da Divindade? E depois de ouvi-lo, será que consentiríamos
novamente em aceitar qualquer coisa inferior à teologia, a doutrina de Deus?
Não exigiríamos depois de tal experiência, que nos falassem tão-somente da
visão do próprio Deus ou então que se calassem totalmente?

Ao ver a transgressão do ímpio, o coração do salmista lhe revelou o que
acontecera. "Não há temor de Deus diante dos seus olhos". Ao dizer isso,
ele expôs a psicologia do pecado. Quando os homens deixam de temer a
Deus, transgridem as Suas leis sem hesitação. O medo das conseqüências
não detém o pecado quando desaparece o temor de Deus.

Nos tempos antigos era dito que os homens de fé "andaram no temor de Deus" e
"serviam ao Senhor com temor". Por mais íntima que fosse a sua comunhão
com Deus, por mais ousadas fossem as suas orações, sua vida religiosa
apoiava-se no conceito de um Deus aterrador. Essa concepção de um Deus
excelso desenvolve-se através de toda a Bíblia e dá tonalidade e cor ao
caráter dos santos. Esse temor a Deus era mais que um medo natural do
perigo; tratava-se de um temor irracional, um sentimento agudo de
insuficiência pessoal na presença do Deus Todo-Poderoso.

Em todas as ocasiões em que Deus aparece aos homens nos tempos bíblicos os
resultados foram os mesmos — uma sensação esmagadora de terror e
espanto, um sentimento opressivo de pecado e culpa. Quando Deus falou,
Abraão se lançou ao chão para escutar. Quando Moisés ouviu o Senhor na
sarça ardente, escondeu o rosto temeroso para não vê-lo. A visão que
Isaías teve de Deus, fê-lo exclamar: "Ai de mim! Estou perdido! Porque
sou homem de lábios impuros".

O encontro de Daniel com Deus foi talvez o mais terrível e maravilhoso de
todos. O profeta levantou os olhos e viu Aquele cujo "corpo era como o
berilo, o seu rosto como um relâmpago, os seus olhos como tochas de
fogo, os seus braços e os seus pés brilhavam como bronze polido, e a voz
das suas palavras como estrondo de muitas gente. Só eu, Daniel, tive
aquela visão; os homens que estavam comigo nada viram, não obstante,
caiu sobre eles grande temor, e fugiram e se esconderam. Fiquei, pois,
eu só, e contemplei esta grande visão, e não restou força em mim; o meu
rosto mudou de cor e se desfigurou, e não retive força alguma. Contudo,
ouvi a voz das suas palavras; e ouvindo-a, caí sem sentido, rosto em
terra" (Daniel 10: 6-9).

Estas experiências demonstram que uma visão da transcendência divina acaba
com toda a controvérsia entre o homem e o seu Deus. O homem perde toda a
sua valentia e no final está pronto a perguntar brandamente como Saulo,
depois de vencido: "Senhor, que queres que eu faça?" Em contraste, a
autoconfiança da maioria dos cristãos de hoje, a frivolidade básica que se faz
presente em tantas das nossas reuniões religiosas, o chocante desrespeito
à Pessoa de Deus, evidenciam claramente a profunda cegueira dos corações.
 Muitos se chamam pelo nome de Cristo, falam muito a respeito de Deus, e
por vezes oram a Ele; mas evidentemente não sabem Quem Ele é. "O temor
do Senhor é fonte de vida", mas esse temor santo não é quase encontrado hoje
 entre os cristãos.

Certa vez, ao conversar com o seu amigo Eckermann, o poeta Goethe começou
a falar de religião e mencionou o abuso do nome de Deus. "As pessoas O tratam,
como se o Ser Altíssimo e Incompreensível, que se encontra além do alcance do pensamento, pudesse comparar-Se a elas. Como contrário, não fariam referências
ao "querido Deus, bondoso Deus, Senhor Deus". Estas expressões se tornam,
principalmente para o clero, que as tem continuamente em sua boca, simples
 palavras, nome estéril ao qual significado algum é atribuído. Se estivessem
realmente impressionados com a Sua grandeza, emudeceriam, e, em demonstração
de reverência, evitariam nomeá-lO"

A. W. Tozer

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