terça-feira, 16 de agosto de 2011

Pregação Evangelística: Um Ofício Perdido


Pregação Evangelística:  Um Ofício Perdido

Conrad Mbewe

Estou preocupado. Estou bastante preocupado com a ausência de pregação evangelística
em nossos dias. Em muitos púlpitos, o que se chama de pregação evangelística é
basicamente um apelo aos não-crentes, um apelo acrescentado ao final da maioria
dos sermões. Onde estão os sermões que, do início ao fim, argumentam, explicam
e provam, com base nas Escrituras, que Jesus é o Cristo? Onde estão os sermões
preparados especificamente para expulsar de cada esconderijo e fenda iníqua os
pecadores, até que se prostrem diante da cruz de Cristo? Onde estão os sermões
que lutarão contra consciências entenebrecidas, até que estas vejam sua
necessidade de reconciliação com Deus, por intermédio de Jesus Cristo? Para
onde foram os sermões sobre fogo e enxofre do inferno, pregados nas gerações
passadas? Onde estão os sermões semelhantes aos de George Whitefield, aos dos
irmãos Wesley, Howell Harris, Jonathan Edwards e Asahel Nettleton?

Quero assegurar-lhes desde o início que não estou, de maneira alguma,
sugerindo que temos de alcançar tal proeminência em resultados evangelísticos,
a ponto de encontrarmos nossos nomes no “Rol da Fama” dos evangelistas. Isso
seria esperar demais. Temos diferentes dons e diferentes graus de talentos.
Alguns são mais dotados em pregação evangelística, enquanto outros realizam
melhor trabalho ministrando aos crentes. Quanto a isto não tenho dúvida. O que
estou dizendo é que todos nós, chamados ao ministério de pregação, temos de
fazer algo para recuperar o ofício perdido da pregação evangelística, antes que
o percamos completamente. Está se tornando bastante difícil encontrar
pregadores que realizem conferências evangelísticas nas igrejas; porém,
encontramos pregadores em abundância, quando desejamos que alguém realize uma
conferência sobre a vida cristã bem-sucedida,

Quando consideramos as palavras finais do apóstolo Paulo a Timóteo, um jovem
pastor em Éfeso, não há dúvida de que a pregação evangelística foi um dos
deveres sobre os quais Timóteo foi exortado a não negligenciar. Timóteo foi
instruído a realizar a obra de evangelista como parte do cumprimento de todos
os deveres do seu ministério. Temos de fazer o mesmo. Em meio ao árduo labor de
ensinar aos crentes os fundamentos da fé e como eles devem viver, também
precisamos ocupar-nos com labores evangelísticos. Em meio ao trabalho de guiar
o povo de Deus à vida eclesiástica apropriada, também precisamos levar
pecadores a Cristo. Não devemos realizar somente um aspecto ou outro do
ministério. Temos de realizar ambos.

Por que estamos perdendo a pregação evangelística?

Não tenho dúvida de que a ligação das igrejas com o arminianismo e as
poderosas táticas de pressão, recentemente usadas para trazer as pessoas “à
frente”, constituem uma das razões por que a pregação evangelística tem
desaparecido. Qualquer pastor interessado em ter um ministério que honra a Deus
desejará se manter tão distante quanto possível dessas táticas.

Um estudo elementar da História da Igreja demonstrará que o apelo para vir à
frente é uma inovação moderna que tem, no máximo, cem anos de existência.
Portanto, faremos bem em rejeitá-lo como parte da pregação evangelística. Mas
receio que, ao abandonarmos completamente a pregação evangelística por causa
deste apelo, nos despojemos inconscientemente de algo valioso. Sim, temos de
odiar qualquer tipo de manipulação. Isto traz bodes à membresia da igreja e, deste
modo, compromete o testemunho da igreja no mundo. Entretanto, a pregação
evangelística tem de ser vista como o fundamento de nossa chamada ao
ministério.

Infelizmente, o ofício perdido da pregação evangelística resultou no ofício
perdido do evangelismo pessoal. Visto que os membros das igrejas não vêem no
púlpito uma paixão pelas almas, estão perdendo esta paixão em seu viver. A
igreja reflete aquilo que vê no púlpito. Além disso, a vantagem de ter pregação
evangelística, no púlpito, é que os crentes têm regularmente, diante de si, um
modelo a respeito de como apresentar, com eficiência, o evangelho aos
não-crentes. Uma igreja nunca atingirá um nível mais elevado do que o de seu
púlpito. Se o púlpito está indo mal em alcançar os pecadores, o restante da igreja
irá de maneira semelhante. Isto explica o desaparecimento da prática de
testemunhar com a finalidade de ganhar almas em nossos dias. Nós, pregadores,
somos culpados!

Embora tenhamos de nos preocupar com a pregação evangelística “fora da
igreja”, onde os pecadores estão, não podemos negligenciar a necessidade de
pregarmos evangelisticamente para aqueles que freqüentam, com regularidade, a
igreja. Alguns crentes acham que isto é desnecessário porque, dizem eles, as
pessoas que freqüentam a igreja são crentes. Mas, isto é realmente verdade?
Talvez seja verdade em alguns países do Ocidente nos quais a igreja está
morrendo.

O que tenho observado, na África e em muitas partes do mundo onde já
preguei, é que considerável número de pessoas que estão na igreja aos domingos
é constituído de não-crentes. Estes precisam ouvir o evangelho não como um
anexo ao final do sermão preparado para crentes, e sim como uma mensagem que
almeja alcançá-los de modo específico. A pregação evangelística na igreja
também estimula os crentes a convidarem seus amigos e colegas de trabalho, que
eles procuram trazer a Cristo. Os crentes estão certos de que, se o convite for
aceito, os seus amigos certamente ouvirão o evangelho.

A pregação evangelística também é edificante e revigorante para os crentes.
A cruz apresentada novamente, com o apelo da pregação evangelística, geralmente
faz os crentes dizerem: “Sabem, se eu ainda não fosse crente, teria entregado
minha vida a Cristo hoje”. Eles vêem, uma vez mais, a tolice e a futilidade de
uma vida sem Cristo, e as fontes de amor por Cristo jorram outra vez, ao
contemplarem o derramamento do sangue na cruz.

A apresentação do leite das doutrinas evangélicas de redenção — o novo
nascimento, a união com Cristo, a justificação, etc. — alimentam a alma do
crente na mesma proporção que o faz a carne forte da Palavra. Por conseguinte,
a pregação evangelística também será boa para os crentes, enquanto não for a
única dieta pela qual eles vivem.     
          Acyr Godoy.

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