quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Feira da Vaidade - Charles Spurgeon


“Então vi em meu sonho que, quando eles saíram do deserto, avistaram uma cidade que se chamava Vaidade. Nela era reali­zada uma feira chamada Feira da Vaidade, que funciona o ano todo. A cidade tem esse nome porque é "mais leve que a vai­dade” e também porque tudo que ali é vendido ou acontece é vaidade, como diz o sábio: "Tudo quanto sucede é vaidade."

O estado mais feliz de um cristão é o de mais santidade. Como o calor próximo do sol é mais intenso, assim é a felicidade mais junto a Cristo. Nenhum cristão usufrui desse conforto en­quanto tem os olhos fixos em coisas sem valor. Não culpo os ímpios por
se atirarem aos seus prazeres. Que tenham sua satisfação. Isso é tudo o que eles têm para usufruir, mas os cristãos têm de buscar seus prazeres e alegrias numa esfera superior às insípidas frivolidades do mundo.
Correr atrás de coisas fúteis é perigoso para almas renovadas.

“Pois bem: o caminho para a Cidade Celestial passa justamente pelo meio desta cidade onde se realiza esta feira de desejos; e aquele que pretende chegar à cidade celestial sem atravessar esta cidade "teria de sair do mundo."

Ao sentir-se fatigado pela luta e pecado com que você depara no caminho, lembre que todos os santos passaram por esse mesmo sofrimento.
Não foram levados aos céus carregados em liteiras, e você não deve esperar viajar em condições mais fáceis do que eles. Tiveram que arriscar suas vidas até à morte, nos lugares mais árduos do campo de batalha, e você não será coroado até que também tenha enfrentado as dificuldades como um bom soldado de Jesus Cristo. Portanto,
"permanecei firmes na fé, portai-vos varonilmente, fortalecei-vos."

Agora era a vez desses peregrinos passarem por esta feira. E assim o fizeram, mas
tão logo se aproximaram, todo o povo se agitou, e surgiu logo um alvoroço em
torno deles, por diversos motivos:

Primeiro, como a roupa dos peregrinos era diferente da dos habitantes da cidade, todos os olhavam admirados, julgando que fossem idiotas ou loucos.

Segundo, assim como se maravilhavam com sua aparência, o mesmo sucedia em relação à sua maneira de falar, pois poucos entendiam o que diziam. Naturalmente falavam a
língua de Canaã; os que organizavam a feira eram homens que pertenci­am a este mundo. Assim, de uma extremidade da feira à outra, pareciam bárbaros uns aos outros.



Se você segue a Cristo totalmente, tenha certeza de que será chamado por um ou outro
destes nomes. Dirão como você é diferente. Se você é um cristão autêntico, logo será um homem marcado: "Como ele é estranho!" "Como ela é esquisita!" Pensa­rão que tentamos nos destacar entre os outros, quando de fato somos apenas conscienciosos e
estamos nos empenhando em obedecer à vontade de Deus.

Dirão eles:
"Como vocês são antiquados! Vocês acredi­tam nas mesmas coisas antigas como nos tempos de Oliver Cromwell — aquelas doutrinas puritanas arcaicas!" Eles riem de nossa fé e afirmam que perdemos a liberdade.

A Feira da Vaidade não é um negócio novo, mas uma institui­ção bastante antiga. Vou
mostrar-lhes sua origem. Há cerca de cinco mil anos, peregrinos caminhavam rumo à Cidade Celestial, assim como estes dois homens honestos; e Belzebu, Apoliom e Legião, juntamente com seus acompanhan­tes, percebendo pelo rumo que tomavam que iriam atravessar a cidade da Vaidade, inventaram estabelecer uma feira perma­nente na qual se vendessem vaidades, tais como as honras mundanas: casas, terras, empreendimentos, lugares, honras, preferências, títulos, países, reinos, luxúrias, prazeres, e o de­leites carnais, como prostitutas, esposas, maridos, crianças, mestres, vidas de escravos, sangue, corpos, almas, prata, ouro. pérolas, pedras preciosas e tudo mais.

Há diversos tipos de vaidade. A roupa e os sininhos do bobo, a diversão do mundo, a dança, a lira e a taça dos libertinos; todos sabem tratar-se de vaidades. Elas usam sobre a testa seus nomes e títulos apropriados. Mais traiçoeiras são coisas igualmen­te vãs, como os cuidados do mundo e a fascinação das riquezas. Um homem pode estar seguindo a
vaidade tão sinceramente no escritório como no teatro. Se ele gasta sua vida amontoando ri­quezas, está desperdiçando seus dias num espetáculo inútil. A menos que sigamos a Cristo e façamos de Deus o grande objetivo das nossas vidas, só iremos nos diferenciar da maioria frívola na aparência.

É a doçura do pecado que o torna mais perigoso. Sata­nas nunca vende seus venenos às claras; ele sempre os embrulha para presente antes de vendê-los. Tome cuidado com os prazeres. Muitos são inocentes e saudáveis, mas muitos outros são destrutivos. Dizemos que onde crescem os cactos mais formosos, ali esprei­tam as mais venenosas serpentes. O mesmo se aplica ao pecado. Os prazeres mais agradáveis podem comportar os pecados mais gritantes.
Tome cuidado! A víbora de Cleópatra foi trazida numa cesta de flores. Satanás oferece ao ébrio a doçura da taça embriagante. Ele oferece a cada um de nós nossa alegria particu­lar; ele nos agrada com prazeres a fim de nos capturar.

Além disso, nessa feira acontecem a todo tempo trapaças, lo­gros, jogos, brincadeiras, ludíbrios, imitações, cartas e truques de todo tipo.

Nela vêem-se, também, e por nada, furtos, assassinatos, adul­térios, falsos juramentos e toda forma de escândalo.

Expulse para sempre todo pensamento carnal se você vive no poder do Senhor ressurreto.
Seria terrível se alguém que se diz vivo em Cristo fosse conivente com a corrupção do pecado. "Por que buscais entre os mortos ao que vive?", disse o anjo a Madalena. Será que quem é vivo habita em sepulcros? Será que a vida divina deve estar enclausurada numa capela mortuária de de­sejos carnais?
Como podemos tomar parte no cálice do Senhor e ao mesmo tempo beber do cálice
de Belial? Você, cristão que cer­tamente já foi liberto de cobiças e pecados evidentes, você tam­bém já fugiu das armadilhas mais secretas e ardilosas do passarinheiro  satanás? Você tem se desvencilhado do pecado do orgulho? Tem derrotado a preguiça? Tem evitado a segurança car­nal?
Tem procurado viver dia após dia acima do mundanismo, do orgulho da vida, da ilusão da ganância? Ande pelo caminho da santidade; ela é a coroa e glória do cristão.

O terceiro motivo, que não agraciou nem um pouco os merca­dores, foi que esses peregrinos davam pouco valor às mercado­rias oferecidas à venda. Não se importavam nem em olhá-las; e quando e os mercadores os chamavam para comprar, tapavam os ouvidos e exclamavam: "Desvia dos meus olhos, para que não vejam a vaidade", e olhavam para o alto indicando que seus negócios estavam no céu.

Um certo vendedor, observando o comportamento dos foras­teiros, zombava deles, dizendo: "O que é que vão comprar?" Mas eles olharam-no muito sérios e responderam: "Compra­mos a verdade."

A religião comum de hoje é uma mistura de Cristo e Belial.

"Se o senhor é Deus, segui-o; se é Baal, segui-o.Não pode haver qualquer aliança entre
os dois. Jeová e Baal jamais poderão ser amigos. "Não podeis servir a Deus e às riquezas"; "ninguém pode servir a dois senhores."
Todas as tentativas de não ser tão rigoroso em questões de verdade e pureza estão fundamentadas na falsidade.
Que Deus nos livre dessa duplicidade odiosa. Não tenha nada com as palavras
infrutíferas das trevas, antes reprove-as. Ande de modo digno do chamado e posição elevada que você recebeu.
Lembre-se, cristão, de que você é um filho do Rei dos reis. Portanto, guarde-se da influência do mundo. Não suje de lama mãos que estão prestes a tocar harpas celestiais; não permita que seus olhos se tornem janelas para a cobiça, esses olhos que estão
prestes a ver o Rei em sua beleza; não deixe que seus pés, que em breve pisarão ruas de ouro, atolem em lamaçais; não consinta que seu coração, o qual em breve será preenchido com o céu e transbordará num êxtase de alegria, seja contamina­do por orgulho e amargura.
Busque a beleza que é eterna E o gozo divinal; Onde a riqueza não se estraga E a glória é sem par!




A resposta dos peregrinos provocou uma reação ainda mais forte: alguns zombavam deles, outros os insultavam e contradi­ziam, e não faltou quem quisesse bater neles. Levantou-se na rua um alvoroço tal, que toda semelhança de ordem desapare­ceu e a multidão começou a maltratar os peregrinos. Finalmen­te a notícia chegou ao chefe da feira, que imediatamente con­vocou seus amigos mais confiáveis para trazerem os homens que estavam transtornando o lugar, a fim de serem examina­dos.

Assim, Cristão e Fiel foram levados presos para serem interro­gados: de onde vinham, para onde iam e o que faziam ali traja­dos daquela maneira estranha. Os dois  disseram: "Somos pere­grinos e estrangeiros neste mundo, e estamos a caminho de nossa pátria, a Jerusalém celestial. Não demos motivos aos da cidade para nos deterem na viagem e nos maltratarem, incluin­do os mercadores, a não ser que, quando nos perguntaram o que queremos comprar, respondemos que era a verdade." Po­rém aqueles que os interrogavam, acreditando que fossem lou­cos  ou que de propósito quisessem provocar agitação, deram-lhes muitas pancadas e os sujaram de lama. Depois puseram Cristão e Fiel numa gaiola de ferro, como espetáculo para o público. Os dois jaziam ali, como objeto de escárnio e ofensas, e ninguém os defendia. O chefe da feira ria alto de tudo o que lhes sucedia.

Os peregrinos são mal-vistos quando passam pela Feira das Vaidades. Não apenas estamos sendo vigiados, mas existem mais espiões do que podemos imaginar. A
espionagem está em toda parte, em casa e nas ruas. Se caímos nas mãos do inimigo, podemos esperar mais generosidade de um lobo, ou misericórdia de um demônio, do que alguma coisa semelhante a paciência para com nossas fraquezas por parte de homens que temperam sua infidelidade para com Deus com escândalos contra seu povo. Te­nha uma vida consagrada e cheia de graça e você não escapará de perseguições. Você pode até ter o privilégio de viver entre cristãos fervorosos e assim ser preservado de perseguições; mas passará por dificuldades se for cristão fiel. Os iníquos têm prazer em inju­riar aqueles que seguem o Senhor Jesus com sinceridade. Os cris­tãos são ridicularizados no local de trabalho, as pessoas apontam o dedo para eles nas ruas e os rotulam com nomes desonrosos. E é em circunstâncias assim que se reconhece quem é eleito por Deus e quem não é. A perseguição age como uma peneira e os que são leves como a palha são levados pelo vento, para sobrarem os grãos que serão purificados. Indiferente à estima dos homens, o cristão verdadeiramente temente a Deus permanece no cami­nho do Senhor para sempre.

"Vejamos a conclusão disso tudo." Meu anseio é que as igrejas sejam mais santas. Fico triste em ver tanta conformidade com o mundo. Quantas vezes a riqueza leva o homem
para o caminho errado; quantos cristãos seguem modismos deste mundo iníquo. Mesmo com toda a minha pregação, muitos desviam-se, tentando ser membros da igreja e cidadãos do mundo ao mesmo tempo. Temos entre nós aqueles que, tendo declarado amar a Cristo, agem muito mais como "amantes do prazer".

Que vergonhoso é para um professor do cristianismo ser visto em certas casas de música e dança, lugares de orgia que não se pode freqüentar sem poluir a moral, pois ali é impossível abrir os olhos ou os ouvidos sem reconhecer imediatamente que se trata de um território de Satanás.

Eu exorto você em nome do Deus vivo: se não puder preservar as boas amizades e evitar a roda dos escarnecedores, não professe ser seguidor de Jesus Cristo, pois ele o convida a abandonar essas companhias e a ser separado. Se você acha pra­zer numa sociedade lasciva e em músicas obscenas, que direito tem de participar da comunhão dos santos ou de cantar os salmos junto com eles?

Mantenha apenas as melhores companhias. Esteja com quem está mais com Deus. Escolha seus amigos entre aqueles que escolheram Cristo como seu melhor amigo: tenha o amor que Cristo tem. Com quem um cristão deveria andar, senão com cris­tãos? Temos o dito popular: "Cada ovelha com sua parelha." Ver um santo ligado a um pecador é o mesmo que ver o vivo e o morto habitarem sob o mesmo teto. É melhor estar em farrapos com Lázaro, do que em finas vestes com os condenados. Habite onde Deus habita. Desenvolva grandes amizades aqui na terra com aque­les que serão seus grandes amigos no céu.

Uma igreja que não é santa, é desnecessária a este mun­do e jamais será estimada entre os homens. É uma abominação, uma gargalhada infernal, que causa repugnância no céu. Os pio­res males que já sobrevieram ao mundo procederam de uma igre­ja que não era santa. Cristão, você se propôs ser do Senhor. Você é sacerdote de Deus: aja como tal. Você é rei com Deus:
reine sobre seus desejos. Você é o escolhido de Deus: não se associe com Satanás. O céu é a sua porção: viva como um espírito celestial.

Assim você provará que tem uma fé genuína em Jesus Cristo, pois não pode haver fé no coração, a menos que haja santidade na vida:

Senhor, desejo viver como alguém Com um nome comprado na cruz; Alguém que teme te entristecer, Pois isso envergonha a Jesus.

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