terça-feira, 16 de agosto de 2011

Suspiros de oração de Arthur W. Pink


Suspiros de oração Arthur W. Pink

As provações da alma e as aflições do coração ganham expressão nos suspiros
e soluços, nas queixas e gemidos, mas de uma forma que nunca são produzidos
simplesmente pela natureza humana. A palavra “suspiro” tem uma força bem maior
em seu uso bíblico que em nossas conversas normais, ou devemos dizer, no
linguajar mais moderno; pois há trezentos anos, o termo significava um lamento,
ao invés de um sinal de petulância. “Os filhos de Israel suspiraram por
causa da servidão” (Êxodo 2.23), o significado disto é explicado no verso
seguinte “E ouviu Deus o seu gemido” (v.24). “O seu gemido” expressa
a dor e a tristeza dos israelitas sob a opressão de seus senhores egípcios.
Também assim, lemos que o penosamente afligido Jó declarou: “Porque antes
do meu pão vem o meu suspiro; e os meus gemidos se derramam como água.” (Jó
3.24). Assim, pelos suspiros de oração intentamos aquelas perturbações e
aspirações da alma que virtualmente são sinônimos de gemidos.

Um “suspiro” é uma declaração inarticulada, e um clamor indistinto para o
resgate. Às vezes, os santos são atacados e perturbados, e não podem falar numa
linguagem comum a suas emoções: onde as palavras lhes faltam, os pensamentos e
sentimentos de seus corações se expressam nos suspiros e clamores. Os labores
do coração de um cristão debaixo da pressão do pecado que habita nele, as
tentações de Satanás, a oposição dos ímpios, a carga de uma sociedade
desagradável, a impiedade do mundo, a vida de submissão à causa de Cristo na
Terra, são descritos de forma variada nas Escrituras. Às vezes, fala-se de
estar “contristado” (1 Pedro 1.6), de clamar “das profundezas” (Salmo 130.1),
de “rugir” (Salmo 38.8), de “desmaiar” (Salmo 61.2), de estar “perturbado”
(Salmo 88.15).

As inquietações e angústia de sua alma são descritas como “gemidos” (Romanos
8.23). Os gemidos do crente não somente são expressões de tristeza, como também
de esperança, da intensidade de seus desejos espirituais, de sua busca por
Deus, e seu desejo ardente pela bem-aventurança que eles espera do alto – “E
por isso também gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação, que é do
céu… Porque também nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos carregados;
não porque queremos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja
absorvido pela vida” (2 Coríntios 5.2,4). Provações da alma deste tipo são
peculiares para os regenerados, e, através delas, o cristão pode identificar-se
a si mesmo. Se o leitor agora é tomado por tristeza e suspiros, como um
estrangeiro em sua própria terra, então pode-se assegurar que você já não está
morto em pecado. Se você se encontra gemendo devido à infecção de seu coração e
àquelas obras da corrupção interior que atrapalham o amor perfeito e o serviço
sem interrupção a Deus, como você deseja fazê-lo, isto é prova de que um
princípio de santidade já foi comunicado à sua alma. Se você geme devido às
concupiscências de sua carne contra este começo de santidade, então você deve
estar vivo para Deus.

O mundano gemeria por sofrimentos comuns da vida, como perda financeira, dor
no corpo, a morte de um querido, mas esta é apenas a voz da natureza humana. O
mundano nunca chora em segredo sobre o esfriamento de seu coração ou atos de
incredulidade. Os “gemidos” ou os “suspiros” são a prova da vida espiritual, o
caminhar atrás da santidade, a fome e sede de justiça. Eles são, como Sr.
Winslow expressou “os sons guiados para o

céu”. Eles são a garantia do resgate (2 Coríntios 5.4). Eles são as marcas
da união do cristão com Aquele que é o “varão de dores” (Isaías 53.3). Antes de
Jesus curar o surdo, lemos que “levantando os olhos ao céu, suspirou” (Marcos
7.34), o que expressa Sua simpatia com o sofredor, como alguém que “possa
compadecer-se das nossas fraquezas” sendo “como nós, em tudo tentado” (Hebreus
4.15). E, outra vez, quando os fariseus vieram a ele “para o tentar”, pedindo
um sinal dos céus, vemos Cristo “suspirando profundamente em seu espírito”
(Marcos 8.11,12), o que denota Sua santa indignação ao pecado deles, uma
tristeza piedosa por suas pessoas, e um pesar dentro de Sua própria alma;
porque “ele mesmo, sendo tentado, padeceu” (Hebreus 2.18). Sua santidade sentiu
o contato com a maldade. “Quanto mais alguém está próximo do céu, mais ele
deseja estar ali. Porque Cristo está ali. Porque quanto mais freqüentes e
firmes são nossas visões dEle pela fé, mas anelamos e gememos pela remoção de
todas as obstruções e impedimentos. O gemer é um desejo veemente, mesclado com
tristeza, pela falta daquilo que se deseja” (John Owen).

Por outro lado, os gemidos e suspiros espirituais do cristão são
interpretados por Deus como orações! Aqueles sacrifícios que são aceitáveis a
Ele são o “coração contrito e quebrantado” (Salmo 51.17). Os soluços da alma
são de grande valor diante dEle. Os gemidos do crente são uma linguagem
inteligível ao céu: “porque o SENHOR já ouviu a voz do meu pranto” (Salmo 6.8):
aquele “pranto” pode ser uma súplica a Deus que a eloqüência da oração
profissional não tem. “Senhor, diante de ti está todo o meu desejo, e o meu
gemido não te é oculto” (Salmo 38.9).

Nossas lágrimas contam a Ele da tristeza piedosa, nossos gemidos são as
aspirações de um espírito contrito. “O SENHOR contemplou a terra, para ouvir o
gemido dos presos” (Salmo 102.19,20). Aqui, então, está a consolação – Deus
ouve nossos suspiros secretos; Cristo está em contato com eles (Hebreus 4.15);
eles sobem ao céu como petições, e são a segurança do resgate.

Nenhum comentário:

Postar um comentário